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Leituras para compreender melhor o Brasil e Brumadinho

Caros leitores, aproveito este espaço do Circuito para trazer para vocês alguns breves comentários sobre as prazerosas e instigantes leituras que venho fazendo nas últimas semanas sobre alguns livros que nos permitem compreender melhor tanto o Brasil quanto Brumadinho.

Aproveito ainda para trazer também alguns detalhes sobre livro de minha autoria publicado através do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural/Prefeitura de Brumadinho intitulado “Midias locais, história e desenvolvimento de Brumadinho – 1910 + 2013”.

Neste compasso referencio primeiramente a prazerosa leitura que fiz do livro de autoria do jornalista Laurentino Gomes intitulado “Escravidão. Da independência do Brasil à Lei Áurea”, volume III, que compõe uma trilogia sobre o significado político, moral e econômico da escravidão no Brasil desde os períodos iniciais da nossa colonização. Embora o autor seja jornalista e não historiador, ele consegue interpretar habilmente e de forma clara o que foi o horror da escravidão do Brasil e de que maneira as nossas chamadas elites sociais erigiram parte da nossa história cujos resquícios cruéis permanecem presentes até hoje através da injustiça social e da discriminação contra negros e mulatos, situação que se repete com nossas populações indígenas.

O primeiro volume dessa trilogia foi intitulado “Escravidão. Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares” enquanto o segundo volume tratou da “Escravidão: da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João ao Brasil”, todos pela editora Globo Livros.

Capa do volume III do livro “Escravidão”, de Laurentino Gomes.

 Mas se alguém quiser saber um pouco mais sobre os reflexos desse sistema escravagista em Brumadinho e no restante do Vale do Paraopeba, indico aqui a leitura do excelente livro publicado por Claudia Eliane Parreiras Martinez intitulado “Riqueza e escravidão: vida material e população no século XIX. Bonfim do Paraopeba/MG”, pela editora Annablume em 2007.

Juntamente com este livro indico também a leitura do excelente artigo, facilmente encontrado na internet, de autoria de Ulisses Henrique intitulado intitulado “Comércio de mão de obra escravizada numa economia de mercado interno: o mercado de escravos da Cidade de Bonfim do Paraopeba (MG) e suas conexões (1861-1888), publicado pela revista “Temporalidades”, v. 9, n. 3, set/dez. 2017.

Capa do livro de Cláudia Martinez sobre a escravidão em Bonfim do Paraopeba

Deixando essa parte da história e entrando nos tempos atuais, se alguém quiser entender melhor as causas, as consequências e a responsabilidade sobre a tragédia provocada pela Vale em Brumadinho pelo rompimento da Barragem B1 do Córrego do Feijão em 2019 e que matou 272 pessoas e provocou incalculáveis prejuízos econômicos, ambientais e humanos ao município, há vários livros e artigos retratando e analisando este fatídico acontecimento.

A começar por dois livros publicados como resultado de duas CPIs realizadas sobre este fatídico acontecimento. O primeiro é intitulado “Rompimento da Barragem de Brumadinho” e é o resultado da CPI da Câmara dos Deputados, coordenada pelo deputado federal Rogério Correia (PT), enquanto o outro é o resultado da CPI feita pela Assembleia Legislativa de Minas intitulado “Opção pelo risco: causas e consequências da tragédia de Brumadinho. A CPI da ALMG” que teve como presidente o deputado Agostinho Patrus.

Os exemplares desses dois livros foram a mim disponibilizados pela presidente da Avabrum – Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão”, Alexandra Andrade, e trazem detalhes sobre a mineração em Brumadinho e o comportamento da Vale diante dessa tragédia.

 

Capas dos livros sobre as CPIs da tragédia provocada pela Vale em Brumadinho

A leitura desses dois livros pode ser complementada com o livro publicado pela Faculdade Asa no ano passado intitulado “Tragédia em Brumadinho: desafios jurídicos e planejamento estratégico” (Editora Plácido, 2021), uma primorosa coletânea de artigos escritos pelos professores dessa instituição coordenada pelos professores Rafael Tallarico e Gustavo Herman Correa. Nesta obra os autores refletem sobre o impacto dessa tragédia e de como os pressupostos do direito (hermenêutica) pode e deve atuar no processo de reparação à sociedade atingida.

 

Livro publicado pela Faculdade Asa em 2021sobre a tragédia provocada pela Vale em Brumadinho

Nesta mesma toada indico o livro da jornalista Daniela Arbex “Arrastados” (2021) que, em uma narrativa jornalística primorosa, fez a reconstituição dessa tragédia através do olhar e dos últimos passos de algumas das suas vítimas que, ao lado do livro de Lucas Ragazzi e Murilo Rocha, intitulado “Brumadinho: a engenharia de um crime”, desvelam a arquitetura dessa tragédia.

Já para entender o contexto minerário brasileiro indico o livro publicado por Charles Trocate e Tádzio Coelho intitulado “Quando vier o silêncio: o problema mineral brasileiro” (Fundação Rosa Luxemburgo, Expressão Popular, 2020).

Também quem quiser entender melhor a história de Brumadinho disponibilizo para os leitores o meu mais novo livro intitulado “Mídias locais, história e desenvolvimento de Brumadinho – 1910 + 2013” em que reflito sobre o papel da ferrovia, da mineração, os impasses e os desafios que travaram ou facilitaram o desenvolvimento de Brumadinho e o papel das mídias locais com suas respectivas histórias, como o jornal “Fascum”, “Cunfas”, “Gazeta do Vale”, “Tribuna do Paraopeba”, “Circuito”, Rádio InterFM”, “Rádio Amizade” e “TV do Vale do Paraopeba”, entre outros veículos de comunicação.

Este livro complementa o excelente livro publicado em 1982 por Décio Jardim e Márcio Jardim intitulado “História e Riquezas de Brumadinho” durante o governo Gibiu.

 

No último capítulo do meu livro, intitulado “Dor, luto (a) e Melancolia: o rompimento da barragem do Feijão”, analiso também a tragédia provocada pela Vale em Brumadinho no dia 25 de janeiro de 2019 e que foi escrito em parceria com minha filha, Daniela de Castro Oliveira. O seu conteúdo é o resultado da aula inaugural que fiz no Icicit-Fiocruz, do Rio de Janeiro no dia 19 de março de 2019, ou seja, três meses após a tragédia onde lecionei por muitos anos.

Neste artigo, destaquei de como a Vale, antes dessa tragédia, vinha fazendo uso de várias estratégias discursivas para construir uma imagem positiva sobre si mesma no munícipio e de como, depois da tragédia, seus moradores com ela ficaram traumatizados com a morte de 272 pessoas fazendo com que até hoje eles continuem a lutar para receber a devida e justa reparação que merecem.

A disponibilização deste livro para o público brumadinhense será gratuita e está apenas aguardando que ocorra o seu lançamento oficial a ser feito pela Secretaria de Cultura/Prefeitura para o público municipal, principalmente para as bibliotecas de nossas escolas e seus respectivos professores, o nosso público preferencial.

E, por fim, sugiro também a leitura do mais novo livro lançado pelo escritor e professor Reinaldo Fernandes intitulado “Minha vida é reticências” (Editora Ases da Literatura) no qual, através da poesia, retrata a esperança, a utopia e o cotidiano da vida com seus encontros e desencontros e que, neste momento, avidamente, ainda estou lendo.

Mas já nele destaco, de imediato, a leitura que fiz do poema intitulado “Não vejo pessoas vivas” (página 139) que, entre outras coisas, tratou também da tragédia provocada pela Vale em Brumadinho cujos versos retratam um retrato pungente sobre a conduta da Vale diante da tragédia por ela provocada em Brumadinho quando nos mostra que nossos corações até hoje insistem em tentar encontrar em cada olhar, em cada esquina, pessoas vivas, mas que, infelizmente, só esbarram com as sombras dos nossos mortos, enquanto o presidente da empresa declara que “tudo estava conforme a lei!” (pág.189), entre outros poemas sensíveis e instigantes.

O livro pode ser obtido diretamente com o próprio autor.