Paulo Fonsêcà
Esse mês no passeio mensal pela Livraria Mega Morais me deparei com esse livrinho (-inho- apenas pelo tamanho pois livraço pela sensibilidade da narrativa) na estante e não resisti. Mais um livro da Editora Nós, editora esta que tem sido constantemente resenhada por aqui não é mesmo? Mérito deles por um catálogo tão maravilhoso! Pois bem, além da capa linda a frase de fundo me conquistava: “Meu choro era casa de veraneio. Hora ou outra a gente entra”. Tratar as lágrimas como premissa já me pegava por inteiro, logo eu canceriano, já no primeiro dia leitura concluí todo o livro em um fôlego só, a única coisa que não foi única foram as lágrimas, essas foram várias…
Já no começo o primeiro baque. Aquele que vem a ser o personagem principal da história é encontrado morto num edifício abandonado e teremos então todo o romance do livro contado a partir dos papéis avulsos em formato de diário que é encontrado perto esse senhor. Esse senhor é o Inácio, um antigo palhaço que acaba sendo “encostado” quando o circo fecha e sem ter pra onde ir acaba encontrando emprego e moradia como porteiro do que na sua visão seria um prédio chique de pessoas de classe média. Inácio em sua portaria passa a conhecer e ser companhia da história do menino Estevão, uma criança ali com seus 10, 11 anos mas que tem uma série de problemas graves respiatórios e pra onde quer que ele vá carrega seu galãozinho de oxigênio e sai por aí tossindo e perdendo o ar constantemente durante o dia.
Uma história de encontro de almas solitárias que me lembrou muito o filme “Central do Brasil”. Em sua escrita forte e ao mesmo tempo sutil, Tadeu nos mostra como é importante ser parceria de um pra outro no livro, tanto do senhor já em idade avançada, agora sem família e sem circo mas com a mente borbulhando de histórias e gargalhadas presas com voracidade de serem contadas; quanto do menino doente e triste, sem muitos amigos e desassistido pelo pai. Na história cria-se mais do que um laço paterno na relação dos dois, nesta é também criado um laço de amizade sincera, de ombridadade, respeito, parceria e acima de tudo de felicidade, palavra essa já tão escassa na vida dos dois até o presente momento do encontro. Porém, o livro apesar de curto trabalha com uma reviravolta gigantesca já em seu caminho pro desfecho e como se as lágrimas derrubadas até ali já não fossem o suficiente, como diria Carla Madeira,: tudo é rio – e o corpo se transforma em cada vez mais lágrimas.
Em encontro com o livro e tranzendo ainda mais força a esssa experiência com a idade e a perecividade das coisas, esses dias “zapeando” pelo instagram eu vi um vídeo lindo (mais uma vez mais lágrimas) de uma nora postando sobre o dia a dia da sogra, já em idade avançada e com Alzheimer também avançado onde na primeira parte do vídeo ela conta quantas vezes essa senhora em um passeio de carro com ela comenta: o tempo está bonito hoje. O fato acontece em cerca de 14 vezes. Assim, quando o vídeo mostra a segunda parte do mesmo passeio é que temos as respostas carinhosas que essa mesma nora dá a sogra em cada um dos seus 14 comentários. Para cada um deles hora ela concorda, cria assunto, é caridosa, engraçada, finge espanto e novidade em cada um dos repetitivos comentários da sogra e acima de tudo: é extremamente carinhosa com ela. Me emocionei, corpo vertendo em lágrimas mais uma vez, em muitas.
A máxima de ambas histórias, real ou ficção é que a idade é de fato inexorável a todos nós. O tempo urge e passa para cada um de nós, os cabelos brancos se multiplicam ou caem, as histórias se acumulam, se repetem, se confundem e as pessoas se vão. Nascemos sozinhos e provavelmente partiremos da mesma forma. Exatamente por isso mas não só, devemos sempre ser abrigo as almas cujos quais nossas vidas tocam mas, também devemos sempre olhar com respeito e carinho a cada daqueles que as nossas vidas cruzam pois jamais resistiremos a nossa solidão ou partilha da vilha se não for plantando o bem e a alegria a cada um daqueles que nos cercam, por hoje, amanhã e sempre. Ainda depois que as luzes se apaguem.