/Um outro olhar sobre o continente africano

Um outro olhar sobre o continente africano

Como principal proposta de leituras e metas deste ano me propus a ler mais autores e autoras de países que não tenho tanto o hábito de ler. Não se vocês já pararam para reparar mas, a grande maioria das publicações literárias do Brasil quando se trata de autores não nacionais acabam sendo ou dos nortes americanos ou de autores europeus. Claro que existe a facilidade da língua, indiscutivelmente o inglês ainda é a língua oficial mais falada no mundo então conseguir tradutores e ter acesso a pessoas que consomem nessa língua é muito mais fácil, porém, 193 países no mundo, nos ater a ler apenas escritores e escritoras de um “abocanhado” de no máximo 20 países e deixar de ter contato com um longo conhecimento e processo de empatia nosso que pode vir a ser (e na grande maioria das vezes é) riquíssimo.

Exatamente por isso, em minha ida mensal a Livraria Morais optei por escolher uma autora maravilhosa e Nigeriana: Chimamanda Ngozi Adichie. Incrível como ler e ter contato com autores africanos nos trazem um outro olhar sobre esse gigantesco e rico continente e principalmente quando se lê de uma potência de voz como Chimamanda: escritora feminista e uma das maiores intelectuais do mundo todo.

Filha de um professor e de uma administradora funcionários da Universidade da Nigéria, Chimamanda veio a crescer em um campus universitário na região leste da Nigéria, onde desde muito cedo se tornou uma leitora voraz, começando a ter contato com a literatura ainda nos primeiros anos da infância. Por sua vez, a escrita começou a ser desenvolvida aos sete anos.

Com um mesmo problema que citei no Brasil Chimamanda desperta sua paixão pelos livros com obras escritas por autores estrangeiros cujos personagens eram brancos, de olhos azuis, que costumavam brincar na neve e comer maçãs… Tais personagens falavam sobre como era bom o fato de o sol ter aparecido (quantos e quantos livros europeus podemos citar assim não é mesmo? Morro dos ventos uivantes, Jane Eyre, Os miseráveis, por aí vai..) porém, para quem vive na Nigéria, este cenário é, no mínimo, deslocado beirando a irrealidade, até mesmo as problemáticas tratadas nos livros parecia algo muito simples pra sua cultura e região. Por esse motivo, a descoberta das produções literárias africanas foram decisivas para mudar o estilo da autora e fazê-la escrever a partir de um lugar em que se reconhecia e poderia falar da sua realidade.

O fato é que, ao conhecer Chimamanda pelo livro: No seu pescoço, uma coletânea de 12 contos que descreve sobre inúmeras realidades africanas ( contos sobre a cultura e religião, sobre política e guerras dos seu país, sobre o tratamento dos homens com as mulheres, sobre a voz da população carcerária, entre outros exemplos) nos mostra um outro lado da Nigéria e do continente africano como um todo no qual não temos (ao menos eu não tinha) nenhum tipo de contato anterior, é como se de fato um outro mundo se abrisse diante dos nossos olhos, mundo este ora tão parecido com nossas sobrevivências e ora tão distante.

Eu não tenho dúvidas sobre o poder transformador da leitura, bem como não tenho dúvidas de como existe de fato um Paulo antes e um Paulo depois desta leitura e com absoluta certeza ainda irão ler muito eu falando de Chimamanda por aqui e se ao fim deste artigo cabe o espaço de um conselho: Leiam Chimamanda, transformador!

 

Paulo Fonseca