/A força da escrita de Jeferson Tenório

A força da escrita de Jeferson Tenório

No Brasil existe uma espécie de Oscar da literatura, este é chamado de Prêmio Jabuti. O Prêmio Jabuti é o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Criado em 1959, foi idealizado por Edgard Cavalheiro quando presidia a CBL, com o interesse de premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que mais se destacassem a cada ano.

Ao meu ver o mais interessante deste prêmio é acabar descobrindo autores contemporâneos em plena atividade, podendo se aproximar destes, conversar e ler diretamente sobre os problemas contemporâneos que infelizmente ainda tanto conversam com os problemas do passado.

Este mês ao ir a Livraria Mega Morais me deparei na prateleira com O Avesso da Pele de Jeferson Tenório. Curiosamente Jeferson só veio a ganhar maior notoriedade após este livro, sendo este seu terceiro pois, a partir dele conquistou a categoria de melhor romance literário de 2021 no aclamado Prêmio Jabuti.

Curiosamente no final do ano passado ganhei de amigo oculto o segundo romance publicado de Jeferson – Estela sem Deus, um super presente vindo da minha amiga escritora, Elisa Rates (aquela mesmo de Aportada, livro o qual por aqui também já foi resenhado) e por se tratar de um segundo livro de um autor que tanto estava sendo comentado na época acabei comprando também o seu primeiro romance, O Beijo na Parede.

O fato é que estava eu com os três livros de Jeferson para serem lido sequencialmente em ordem de publicação e poder falar não só do vencedor de todo destaque, mas, da obra de Jeferson como um todo, e a partir da leitura sequenciada de suas três obras posso confessar uma coisa: – Que escolha maravilhosa foi essa minha de ler tudo disponível e já publicado de Jeferson!

Jeferson escreve de uma forma absurdamente forte, de arrancar nossos corações na unha. Na escrita de Jeferson acompanhamos de forma brutal a vida da negritude em nosso país tão “escrotamente” racista. Seja na vida do jovem João (de O Beijo na Parede) descobrindo o mundo das coisas e das pessoas; seja na vida de Estela (de Estela sem Deus) descobrindo as durezas e desafios de ser uma mulher preta numa sociedade absurdamente retrógrada, machista e patriarcal, ou mesmo na vida de Pedro (de O Avesso da Pele) nos contando sobre a truculência e os abusos policiais nas abordagens e cercamentos na vida da sociedade negra do nosso país.

Ao unir a arte dos três livros de Jeferson casei com as fotos da brilhante fotógrafa @helesalomao, a união da arte dessas duas pessoas deixou tudo pra mim absolutamente sublime.

Sublime, é isso que encontramos ao ler Jeferson – além de uma realidade nua, dura, crua e podre do quão ainda somos retrógrados ao que tange o racismo em nosso país. Jeferson é brilhante, é forte e acima de tudo: absurdamente necessário. Não importa se seu contato com ele será no primeiro livro, no segundo ou no premiado terceiro livro, mas, é extremamente importante de que esse contato aconteça, que sua palavra espalhe e acima de tudo que tenha voz pois no fim é como dizia Angela Davis: Em uma sociedade racista não basta não ser racista é necessário ser antirracista.