Apesar de cercado por mineradoras e de estar localizado no coração da Região Metropolitana Belo Horizonte, a 50 quilômetros desta cidade, Brumadinho ainda possui um ambiente natural, cultural e histórico bastante preservado. Além disso conta com o Inhotim Museu de Arte Contemporânea, o maior museu aberto do mundo que, além de expor obras de arte contemporânea, abriga também exuberantes jardins e projetos de preservação ambiental a partir da expectativa das ideias de desenvolvimento sustentável.
Em condições normais o museu atrai semanalmente milhares e visitantes vindos do mundo inteiro e de diversas regiões do Brasil e de Minas Gerais desde que foi oficialmente inaugurado em 2004.
Entretanto, a maior parte, senão a totalidade dos seus visitantes, passa célere pelo município e pela cidade de Brumadinho ignorando outras e potenciais atrações turísticas aqui existentes como o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com área de 3.941,09 distribuída entre os municípios de Belo Horizonte, Brumadinho, Ibirité e Nova Lima. Seu nome foi inspirado no poema “A Serra do Rola-Moça”, de Mário de Andrade, hoje sob o risco de ser atravessado por um rodoanel a ser construído pelo governo estadual cujas consequências serão ambientalmente desastrosas para o município.
Entretanto, cabe a seguinte correção: atualmente os visitantes do Inhotim hoje não passam assim tão céleres pela nossa cidade, já que no centro são obrigados a enfrentar o intenso trânsito provocado por frequentes congestionamento de veículos desde o Posto do Miltão até o pontilhão da via férrea na Praça da Bandeira (ou do Pirulito, como é também popularmente chamada) e depois na rua Quintino Bocaiúva, depois denominada Itaguá, até perto da Quadra de Esportes.
Mas quando a nova ponte sobre o Rio Paraopeba estiver pronta, eles deixarão de ver ou apreciar também a nossa acinzentada cidade de Brumadinho e dela não se lembrarão nem para falar bem ou falar mal!
É uma pena que não tenhamos uma consistente política local para atrair estes ilustres visitantes do Inhotim para conhecer o restante do rico e significativo acervo histórico, cultural e religioso do município que remonta ao período colonial, como a igreja de Piedade do Paraopeba construída em 1731, a Fazenda dos Martins, as manifestações dos inúmeros grupos de folias-de-reis, de congados e moçambiques e nossas festas religiosas (Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora da Conceição, São Sebastião, entre outras) e as inúmeras comunidades quilombolas aqui existentes, já que até o século XIX a economia do Vale do Paraopeba era dependente de um grande contingente da força de trabalho dos escravos negros que marcaram e ainda marcam a nossa identidade cultural.
Infelizmente estes ilustres visitantes do Inhotim também não poderão apreciar as várias obras dos nossos artistas plásticos brumadinhenses que estiveram até recentemente expostas em uma espécie de galeria pública intitulada “Cidade Colorida” afixadas logo depois do posto do Miltão, idealizada por Leci Strada e com patrocínio da Vale. Com o tempo estas pinturas perderam o seu brilho e, ao invés de serem restauradas, optou-se por derrubá-las para dar lugar a construção de uma nova praça a ser construída em terreno ao fundo desta antiga galeria.
Obra do artista plástico brumadinhense Agnaldo Gonçalves que esteve exposta na galeria pública de arte na entrada da cidade.
Apesar disso, esperamos que esta nova praça seja um recanto aconchegante e, que sabe, a galeria “cidade colorida” seja nela restaurada para quebrar um pouco da forte aridez da nossa cidade constituída de pouco verde, calçadas públicas estreitas e muitas vezes apropriadas para fins privados que dificultam a locomoção de cidadãos comuns ou de cadeirantes ou de outras pessoas com pouca mobilidade motora e que assim se veem obrigadas a transitar pelas ruas.
Obra exposta na Galeria Cidade Colorida na entrada da cidade com o símbolo natural de Brumadinho, o “Pico dos Três Irmãos” abaixo de um olhar esgarçado perscrutando horizontes.
Já a Praça da Rodoviária já teve belas pinturas invocando questões culturais de Brumadinho, ali postadas pelo ex-prefeito Nery Braga, uma gigantesca e pesada pedra de minério de ferro simbolizando nossa riqueza mineral e um simpático e aconchegante coreto de onde muitos artistas populares locais se apresentavam ao distinto público brumadinhense que ali comparecia todas às sextas-feiras para participar de um popular forró organizado por Leci Strada.
Uma das primeiras jardineiras de Brumadinho (a jardineira do Edmundo) em pintura exposta na Rodoviária de Brumadinho feita durante o governo Nery Braga (1999/2000). Foto Valdir de Castro Oliveira.
A praça continua linda, embora tenha perdido um pouco do seu encanto anterior e de faltar a ela um pouco mais de sombra para aqueles que nela buscam um descanso para as pernas ou simplesmente para ver a vida passar por ali.
Já Avenida Vigilato Braga, que já foi um brejo antes de ser avenida, já abrigou uma movimentada feirinha de produtos hortifrutigranjeiros onde se vendia licores, cachaça, rapaduras, verduras, frangos e galinhas caipiras abatidos ou vendidos ao vivo diretamente por seus produtores, sem falar nos diversos grupos musicais ou músicos solos que nela se apresentavam quando distintos públicos podiam apreciar a performance dos espetáculos por eles oferecidos.
Salvo engano, acho que o último grupo que ali se apresentou foi o do Joaquim do Brumado, recentemente falecido, que, ao lado de seus filhos e de outros músicos alegravam e atraiam a atenção das pessoas colorindo essa emblemática avenida de Brumadinho.
De vez em quando também havia apresentações de outros grupos culturais e até um de capoeira.
Uma pena que nestas apresentações nossas belas e afinadas bandas de músicas não tenham dado o ar de suas graças neste espaço, pois elas fazem parte importante da identidade cultural do município. É preciso que elas cantem e nos encantem com mais frequência neste e em outros espaços públicos, como sempre fizeram. Afinal, é preciso ver a “banda passar”, principalmente quando estivermos atoa na vida.
Quem sabe nossas bandas e outros grupos culturais se sintam e sejam estimulados a se apresentarem na nova feira cultural restabelecida na Avenida Vigilato Braga ao lado do Cemma e da pracinha idealizada pelo Markin Pinta, um ponto aconchegante situado na também aconchegante e simpática pista para caminhada construída nesta avenida?
Não podemos e nem devemos ser o que acertadamente a professora D. Alzira Antunes dizia para mim: “Brumadinho foi assim … Brumadinho já teve isso ou aquilo … e hoje não tem mais nem isso e nem aquilo”, completava a frase com um sorriso desalentado!
Apesar de tudo, nossas pracinhas continuam lindas e os pontos de ginástica espalhados por vários recantos da cidade e do município nos estimulam a exercitar pernas, corpos, braços e mentes nas aparelhagens de ginástica neles postadas.
E quanto mais bancos e árvores de sombras altaneiras e aconchegantes pracinhas e logradouros públicos tivermos, mais agradeceremos aos nossos nobres e distintos administradores públicos!