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Palavra Mágica

Querido Papai Noel. Vários anos se passaram e eu perdi o jeito de escrever uma carta como esta. A primeira delas eu tinha pouca idade e nas mãos, lápis, papel e uma borracha que mais amarrotava a folha, do que apagava os erros da escrita. A letra ainda em formação não obedecia uma linha reta, mas de forma torta, chegava até à sua moradia clamando por um presente para a sonhada noite. O senhor era a recompensa viva a visitar tantas casas e quem sabe, realizar tantos sonhos. Custava passar o ano, garantindo notas na escola, bom comportamento em casa. Eram pré-requisitos para recebermos os sonhados presentes. A egocentria infantil era perdoável. Não pensávamos muito naqueles que não receberiam nada porque nosso mundo era de fantasia. Os tempos passaram e o senhor foi revelado por descuido ou por astúcia. Mas, chega o tempo para sair do colo do faz de conta para contar com o que se faz. De menino a projeto de rapaz, o tempo que passou, jaz. Uma lápide do saudosismo dorme nas lembranças das frases prontas: eu era feliz! Um conceito para quem ainda não sabia o que era a felicidade com um umbigo caído há poucos anos. Hoje já não sonho com o senhor. Não tento dormir com os olhos abertos se mal consigo dormir, mesmo com os olhos fechados. Numa dessas noites pensei em lhe escrever e agora o faço. Aproveitando a época e reflexões mesmo que induzidas, faço também um pedido presente, da mais alta importância. Algo que subsidiava famílias fortalecia a união dos amigos, e, constantemente era pregada como conselho dos antigos. Implícita ou explicitamente citada, preciso dela para escrever a crônica para o jornal da minha cidade. Sem ela como premissa, eu nunca consegui escrever uma linha. Perdão, peço aos meus leitores por algumas vezes que não enviei as crônicas. Nunca me faltou-lhes a gratidão, às vezes a dor no coração impedia a doação seja plena. Se não for pleno, nada faço. A carta a ser enviada para o futuro Natal era colada com lembranças e agradecimentos do último passado. Hoje o que lhe peço, é deixado de lado, junto com devido reconhecimento.

Falta consciência ou pobreza de espírito. Nunca poderia ser esquecida um segundo, que dirá, dias e dias. Peço-lhe que encontre o que não está mais em uso. Presente nas guerras internas e externas, razão da morte de tanto amor, e quando falta, sobra muita dor. A lacuna deixada é uma erosão irreversível tornando pessoas ainda mais, pequenas. Pequenas no pensar, no agir e até mesmo no tratar. A amnésia visita minha casa e outras tantas, falta cerne dos esquifes que se postam como santos. Peço-lhe quase um milagre. Se fizer tal feito, agradeça de todos os jeitos atribuindo como milagre do Menino Jesus. Os reis Magos trouxeram para Êle de várias formas. Olha papai Noel, não procure o que peço pela forma. Ela se transforma, vem através de gestos e atitudes. Impossível é caber numa palavra, tamanha magnitude. Vem de Deus e a Êle devemos tanto, que deve muito mais, à sua Mãe Santa. Não tem preço que pague, e custa tão pouco. Vem numa mão amiga ao abrir mão de vaidades, orgulho e coisas fúteis destruidoras da dignidade. É possível ver e senti-la em irracionais e os humanos de qualquer idade. Vem num sorriso, ou numa gota de lágrima. Sai de um grito ou se prende no silêncio. É uma ação de extremo valor e não é negociada em bolsas. Quem negocia não põe a mão no bolso, é uma moeda de troca com as digitais do portador. Não é vista por quem não quer enxergá-la e um cego da percepção da luz, vê como lucidez para o mundo que ela não vê. Sente e enaltece-a no gesto para quem lhe oferece um braço de guia. É a prova máxima, doa-se a quem se doa, não precisa conhecer. . Papai Noel é rara, mas, não é cara. Tem valor incalculável na consciência cristã. A vida sem ela passa vazia, noites e dias e nas mais lindas manhãs. Ela deve estar presente no abrir dos olhos e ser o último manifesto antes de dormir. Penso como são dias daqueles que não a tomam como referência. Papai Noel não pense encontra-la numa prateleira de lojas. Embora em desuso, ela nunca ficará em liquidação, é uma relíquia. Não pergunte àqueles que sempre valorizam ao máximo o pouco que fazem e reduzem a mínimo tudo alquilo que recebem. Por direito não serão merecedores de um digno respeito. Essas, carta e crônica, Papai Noel, só existem por causa dela. Agradeço-lhe e sou-lhe grato. Agradeço se mereço que faça isso por mim. Traga e traduza para quem desconhece o que significa a palavra mágica “GRATIDÃO”. É o maior presente da vida que fica, nem a morte pode apagar!