/O Agro é Pop, o Pop não Pouca Ninguém! O Agro é Tóxico!

O Agro é Pop, o Pop não Pouca Ninguém! O Agro é Tóxico!

Armindo Teodósio

Se formos nos fiar pela propaganda que incessantemente o Agronegócio brasileiro veicula em grandes veículos de mídia nacional, deveríamos acreditar que a modernização é a marca desse setor muito importante da economia brasileira. Mas, como já dizia uma música dos Engenheiros do Hawaii, “o pop não poupa ninguém!”. Quando analisado de perto, o Agronegócio no Brasil toma bomba em diferentes quesitos de avaliação e fica desnuda uma face nada moderna, social e ambientalmente responsável desse setor, infelizmente.           Aprendemos, desde os primeiros anos de ensino, que a história econômica brasileira é marcada pela monocultura e pelo extrativismo. Se o extrativismo tem muitos problemas, e para nós de Brumadinho não é preciso explicar demoradamente porque extrativismo não é sinônimo de desenvolvimento local e bem viver, o mesmo ainda acontece com a agricultura em nosso país.

Na agricultura se manifestam alguns dos mais importantes problemas de nosso país, sobretudo quanto a concentração de riquezas nas mãos de alguns e a produção com consequências muito negativas para a saúde humana e o meio ambiente. Tudo isso sem falar da nossa dependência econômica de um setor que, apesar dos avanços tecnológicos das últimas décadas, não é capaz de nos libertar da condição de país periférico exportador de commodities e comprador de produtos e serviços de maior valor agregado, reforçando nossas mazelas como eterno “país do futuro”, onde o desenvolvimento efetivo parece sempre um devir, uma miragem de um tempo mais a frente que nunca chega.

Todos os países que se tornaram economias capitalistas centrais e desenvolvidas fizeram suas reformas agrárias, alguns deles ainda no século XIX. Em nosso país, milhares de pequenos agricultores familiares vivem espremidos entre o Estado e os interesses dos grandes grupos empresariais da agricultura. Pouco valorizados, permanecem à margem das generosas políticas públicas e dos gastos governamentais em empresas de excelência agropecuária, que ajudaram a sedimentar os avanços tecnológicos de que tanto o Agro, que se diz Tech, gosta de alardear na TV. Mas, vivemos tempos em que uma visão de mundo, muito idealizada, irreal, incorreta e distorcida, está presente como uma tatuagem impossível de ser removida nos corações e mentes de muitos brasileiros: o ataque ao Estado como sinônimo de tudo o de que pior pode existir em um órgão, organização e empresa, no caso estatal. Na verdade, se o Agro avançou no país avançou porque muito dinheiro de imposto foi gasto em empresas como a EMBRAPA e as EMATER, elevando nossas tecnologias aplicadas ao campo.

Mas, como acontece também em Brumadinho, aqueles que realmente colocam comida na mesa do brasileiro de forma saudável, mais democrática, mais equitativa e capaz de ajudar na solução de problemas sociais como o êxodo rural e a promoção da sustentabilidade, são os que menos aparecem na mídia e são valorizados pela população e pela classe política. São os pequenos agricultores, esses sim aqueles responsáveis por 70% dos alimentos que consumimos. E, como em Brumadinho, muitos deles optando pelo crescente e importante mercado da produção orgânica e agroecológica. Mas, permanecem pouco conhecidos, valorizados e apoiados. Esse é um dos graves erros das ações para o desenvolvimento em Brumadinho: não reconhecer o elevado potencial da Região Metropolina de Belo Horizonte como mercado consumidor de produtos agroecológicos, orgânicos, veganos e vegetarianos, detendo a quarta posição no país segundo estudos de órgãos confiáveis como o SEBRAE-MG e o IPEA.

O Agro que se denomina Pop nas propagandas de TV é altamente tóxico. Nos últimos anos, o Brasil se tornou o mais do mundo com maior liberalidade no uso de substâncias uteis para combater pragas mas muito danosas à saúde humana. E esse mesmo Agro ainda faz um grande lobby junto ao congresso nacional para não chamarmos o veneno de agrotóxico, mas sim de pesticida. Mudam-se os nomes e encobrem-se informações, que são um direito do cidadão, para tudo parecer Pop no reino do Agro, quando muito é muito tóxico nesse império.

Como se não bastasse, parcela do empresariado do Agronegócio no país parece não ter grandes preocupações ambientais, por exemplo, com o desmatamento da Amazônia, que é capaz, somado a outros efeitos das mudanças climáticas, a fazer toda a produtividade do Agronegócio brasileiro se perder nas terras ao sul de nosso país. Isso tem dividido o empresariado da agricultura no país, mas aqueles social e ambientalmente responsáveis quase nunca conseguem fazer valer sua voz quando os irresponsáveis se arroubam a fazer em nome do Agronegócio brasileiro.

Por tudo isso, querido leitor, querida leitora, é preciso ficar muito atento e atenta às garfadas que ingerimos, pois de nada vale comer muito e ter a mesa farta, se essa mesa é tóxica. Brumadinho pode mostrar ao mundo que é possível abastecer e alimentar toda uma população com qualidade alimentar real, respeito ao meio ambiente, valorização do homem do campo, das famílias das pequenas propriedades e dos povos tradicionais. Para isso, todos nós de nossa amada cidade temos que dizer um basta às propagandas cheias de meias verdades de um Agro que é muito tóxico.