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Memória e tragédia em Brumadinho

No dia 25 abril completaram-se três meses desde que aconteceu o crime da Vale em Brumadinho matando quase 300 pessoas, além de desestruturar a rede econômica e produtiva da região e isolar várias comunidades da sede do município impedindo o seu acesso a diversos bens e serviços, inclusive os de assistência médica de urgência.

A lama fétida e tóxica que escorreu com violência da barragem de rejeitos do córrego do Feijão que ceifou tantas vidas, provocou incalculáveis prejuízos ambientais para Brumadinho cuja recuperação, se e quando houver, somente será feita a longuíssimo prazo. Resta saber se a Vale arcará financeiramente com esta recuperação ou se a jogará no colo da administração pública e, portanto, no da sociedade como está fazendo em Mariana depois do rompimento da barragem do Fundão.

Para evitar que mais este crime ambiental que impune é que diversos movimentos populares em Brumadinho, o Ministério Público, alguns partidos políticos, diferentes políticos e cidadãos vem aproveitando a data do dia 25 de cada mês para relembrar este crime da Vale perpetuado contra a população de Brumadinho.

Foi com esta motivação também que o Movimento Abrace a Serra da Moeda este ano convocou a população para abraçar mais uma vez esta serra no dia 21 de abril, como faz há vários anos, como um ato político e simbólico para reiterar a necessidade de proteção ambiental da região e simultaneamente protestar contra o crime da Vale e evitar que esta data caia no esquecimento e fazer com que a empresa arque moral e economicamente com a imensidão dos prejuízos materiais e psicossociais que causou e vem causando a sociedade local, principalmente diante da displicência que demonstrou diante dos indícios de um possível rompimento da barragem como vem revelando as investigações das autoridades responsáveis por apurar o caso.

Foi isto que levou muitos movimentos populares a se manifestarem mais uma vez no dia 25 abril na entrada da cidade que, seguidos pela cobertura da mídia nacional, regional e local (Circuito, DeFa- to, Gazeta de Brumadinho, Rádio Regional), puderam mostrar a intensidade da dor que esta tragédia provocou e ainda vem provocando na população de Brumadinho.

Neste dia e neste local estes movimentos perfilaram ao lado dos parentes e amigos das vítimas para chorar a morte de seus entes queridos e, em seguida, zeram a chamada nominal das pessoas que ainda estão desaparecidas sob a lama fétida e tóxica que vazou da barragem de rejeitos. Cada um destes desapareci- dos foi simbolizado por um balão que subiu ao céu levando o seu nome na esperança de, quem sabe, fosse encontrado colocando m a dor de seus parentes e amigos.

E mais uma vez exigiram da Vale as devidas medidas de compensação tanto para as mortes que provocou quanto para os prejuízos que acarretou e vem acarretando para o Município e o meio ambiente para que não aconteça aqui o que aconteceu em Mariana onde a San Marcos e a Vale não pagaram sequer as multas cobradas pelo poder público e tampouco reacentou a população desalojada pelas lamas da barragem do Fundão.

Para evitar esta situação em Brumadinho, isto dependerá muito da convergência da ação coletiva e da união de esforços feitos através de ações políticas solidárias e da opinião pública local e nacional através das mídias convencionais ou digitais e das entidades de direitos sociais e de órgãos públicos.

Entretanto, como nenhum movimento social público nasce por magia, é necessário haver mobilizações pontuais capazes de convergir rumo a movimentações políticas e culturais para sensibilizar e articular diferentes universos políticos (partidos, políticos, associações, pesquisadores, movimentos sociais, etc.) fazendo-os convergir para os seus objetivos resultando no atendimento as suas demandas.

Dentre estas movimentações destaco auspiciosamente aqui o que vem sendo realizado pelo Movimento Abrace a Serra da Moeda anteriormente citado, o site Memorial de Brumadinho, mantido a duras penas por Marcélia de Deus e alguns abnegados auxiliares, o Transparência Brumadinho e os movimentos nascidos após o crime da Vale em Brumadinho como “Brumadinho eu luto” o qual deu origem a um movimento de cunho histórico intitulado “Memória” com a intenção de resgatar ordenar e co- ordenar estudos sobre a memória histórica de Brumadinho, aliás algo tratado com bastante desdém pela nossa municipalidade e que vem contando com a participação de várias pessoas de Brumadinho e o apoio de várias entidades como a PUC e a UFMG.

Quem sabe da convergência desses movimentos resultem uma melhor forma de compreendermos o destino histórico de nossa sociedade que, infelizmente, está abandonado há muito tempo tanto pelos cidadãos quanto por nossas autoridades de plantão.