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O impossível se torna necessidade prioritária em se tornar possível

Impossível iniciar nossa primeira coluna de 2022 sem falar da enchente que inundou parte da área central da Sede, bairros e comunidades ribeirinhas, dividindo o município em várias ilhas, deixando moradores desabrigados e desalojados, assim como turistas que ficaram sem estrada para sair de Brumadinho. Aliás, talvez Brumadinho seja a única cidade mineira inundada que não tinha uma estrada funcional para entrar e sair dela em casos de urgência.

Impossível falar da enchente sem relembrar o crime da Vale, pois se a lama não chegou às casas da cidade no dia 25 de janeiro de 2019, acabou entrando e permanecendo nas residências, comércios e praças desde o dia 8 de janeiro. E, depois que a água se foi, a lama permanece no quintal, nos jardins, nas paredes, nos móveis e eletrodomésticos que tiveram perda total. Vale a pena pensar nesta reponsabilidade ambiental, social e coletiva.

Impossível não falar da solidariedade da população. Uns ajudando aos outros, pois como em cenário de guerra, pouco importava ter dinheiro se não havia lugar para comprar alimento e água potável. A enchente mostrou, mais uma vez, a igualdade do ser humano. E colocou parte da juventude em ação, num trabalho admirável. Empresários e ‘uma dúzia de quatro políticos’ colocaram a mão na massa, saindo da zona de conforto para ajudar o próximo. Coisas que a memória não esquece. As águas começaram a chegar em garrafas e os alimentos em cestas básicas, aos ilhados, desalojados e desabrigados.

Impossível tirar da cabeça a imagem que ‘viralizou’ nas redes sociais de parentes e amigos transportando um caixão pela linha de trem. E de outro brumadinhense, transportado de barco para um enterro digno. Se não bastasse toda a tristeza das pessoas e comerciantes perdendo o que tinham, duas famílias ainda perderam entes queridos em meio ao caos. Impossível contabilizar tamanha dor. Impossível pensar que uma enchente pode tirar o direito de uma comunidade velar um parente ou amigo.

Impossível falar de turismo quando o município contabiliza perdas e estragos das comunidades. Embora turistas tenham cancelado a visita durante e depois da enchente, causando prejuízos aos pequenos e grandes empresários, que terão que se reinventar para se manterem ativos. Mesmo porquê voltamos muitos passos atrás em termos de infraestrutura e limpeza. E, ver turistas visitando lugar devastado pela lama é pouco provável. Sem falar da ‘ômicron’ e da gripe, que são assuntos que precisam ser abordados à parte.

Entretanto, o impossível pode se tornar possível quando olharmos com seriedade para as ideias que chegam para melhorar. Uma delas foi levantada anos atrás e lembrada por alguns internautas durante a enchente. Pois então, o ex-candidato a vereador Britão sugeriu tirar a curva do Paraobepa; aquela que circunda o bairro São Conrado e que é responsável pela enchente do Canto do Rio. Segundo Britão, o rio seguindo em linha reta evita o alagamento do Canto do Rio e, arrisco a dizer, do Lavrado, onde é a foz do Águas Claras. A ideia não foi levada a sério, infelizmente. Mas se tivesse sido, provavelmente os efeitos da enchente seriam minimizados no Canto do Rio, São Conrado e Centro.

Impossível virar esta página sem frisar que a natureza seguirá o seu ciclo e que as cheias dos rios são adventos naturais. Porém, é possível investir em projetos ousados, transformando os espaços alagados em parques florestais, pois quando a água vier não vai encontrar gente, nem empresas e casas. E, quando a enchente se for, os parques poderão ser limpos e entregues de volta a moradores e turistas.

Impossível não ouvir a pergunta: e os donos dos imóveis vão para onde? Ah, sim. Precisam receber uma indenização digna do investimento e não devem esquecer dos momentos de aflição que viveram em meio às chuvas e lamas. Esta ideia vale para todas as áreas que alagam na cidade: Canto do Rio, São Conrado, Cohab, Progresso II, Pires, entre outras. Mas esta ideia é possível? Provavelmente, se for projetada agora, quando estão todos compartilhando os problemas da enchente.

Convidamos a todos e principalmente aos líderes políticos a se reinventarem depois desta cheia. Se não está dando certo, vamos fazer diferente? Apostar em mudanças? Vamos investir no meio ambiente? E dar credibilidade às ideias inovadoras? Somos uma grande coletividade, e isso ficou bem claro pela solidariedade nata que o povo brumadinhense mostrou durante a ‘grande peleja’. Vamos tornar o impossível possível?

Sim, é possível.