/Turismo – Dinheiro não é sinônimo de cidade bem cuidada

Turismo – Dinheiro não é sinônimo de cidade bem cuidada

Outro dia estava observando as fotografias antigas da cidade, postadas no grupo Memorial de Brumadinho, no facebook, e fiquei encantada com a cidadezinha antiga que cresceu no entorno da estação ferroviária, com construções típicas das primeiras décadas do século XX, que não existem mais, e que de nada lembram as galerias, prédios e comércios que as substituíram.

Brumadinho era singela e pitoresca. Assim como ainda é Bonfim, Moeda, Rio Manso, Belo Vale, Piedade das Gerais. “Claro! Elas ficaram estagnadas!” Vão pontuar alguns leitores. “Brumadinho se desenvolveu e elas não!” Podem argumentar. Mas, tudo depende do ponto de vista.

Quem cresceu em Brumadinho da década de 80 para trás lembra que um dos temores dos anos 2.000 era que o município se transformasse em Sarzedo, cidade vizinha onde não se distinguia o que era mineração ou cidade.  Diferente do que se vê hoje. As pessoas que conseguiram transformar aquele cenário estão de Parabéns.

E o que se temia virou realidade em Brumadinho. Atualmente o município é a cara esculpida da mineração. “Certamente”, vão defender alguns. “É a economia principal. O alicerce. A mola mestra geradora de empregos”. Sim. Mas será que temos que permanecer submissos ao fato? A economia gerada pelas mineradoras reflete negativamente no visual da cidade, e nem maquiagem resolve.

Será que os caminhões que transportam minério e que teimam em descer a Serra de Piedade do Paraopeba, desobedecendo Decreto Municipal, estão certos em colocar em risco o patrimônio arquitetônico histórico do distrito setecentista? Um lugar que poderia se transformar num requisitado ponto turístico? Está certo os moradores da localidade ficarem à mercê de barragem localizada no alto da Serra? Assim como estavam os funcionários da Vale no dia 25 de janeiro de 2019?

E, ainda, citando as redes sociais, um ‘post facebookano’ pergunta: qual é o ponto turístico de destaque na sua cidade? O Inhotim, respondo. Já que continua sendo a única atração turística da Sede de Brumadinho, num modo de falar, pois na verdade se localiza no distrito de Conceição de Itaguá. Este ponto turístico é a única razão dos turistas apearem na Sede por cerca de três dias nas pousadas e hotéis.

Inhotim continua sendo um ‘oásis no meio do deserto’. Muitos turistas ficam chocados com a diferença gritante dos cenários. “Um paraíso situado no meio do minério”, comentam. “Pensei que estava no caminho errado. O aplicativo me indicou uma estrada, mas estou numa mineração. É aqui mesmo?”, questionam outros. E os anfitriões respondem: “Não. É porque as mineradoras usam as estradas municipais. É aí mesmo. Essa fila de caminhões é para descarregar o minério na plataforma de embarque. Pode seguir que você vai chegar ao Museu.”

Em outros momentos o investidor turístico defende que a cidade está com o visual prejudicado por conta do crime da Vale, ocorrido há três anos. A desculpa atual é a enchente de janeiro deste ano. E o círculo vicioso de argumentos para o visual urbano desagradável não têm um fim determinado. Não há jogo de cintura que explique.

Sabemos que simples ações cotidianas podem contribuir para a permanência do turista no território. Não só as obras e a mineração são responsáveis pelo visual. Uma cidade desorganizada é resultado de uma série de atos do cotidiano que viram um montante. Um município é como uma casa. Para construir ou reformar é preciso planejamento. E, Brumadinho pode ser comparado a uma casa em construção onde o proprietário recebeu um bom dinheiro para termina-la mas preferiu investir num puxadinho aqui, outro acolá. E a obra segue interminável, sem acabamento, com goteiras e infiltrações. Não tem reservatório de água e as paredes não estão rebocadas e pintadas. A casa ficou enorme e dono esqueceu de construir a garagem.

Melhor seria se tivesse usado o dinheiro em uma casa pequena, com acabamento, pintura e até com um jardim. É assim que comparo Brumadinho com Bomfim, Rio Manso, Piedade dos Gerais e Moeda, que são cidades de menor porte, com muito menos dinheiro, mas bem-acabadas. Enquanto Brumadinho foi crescendo desordenadamente, com muitos puxadinhos, e segue sem reboco, sem pintura e sem praças arborizadas.

Uma cidade agradável e digna de hospedar turistas é responsabilidade de todos. A beleza começa pela calçada limpa, o muro pintado, e os entulhos e lixos descartados de forma consciente. A beleza da cidade começa pelo respeito do cidadão ao não usar as vias públicas para estacionar carretas, carroças, automóveis e material de trabalho. Aquele cidadão que não deixa objetos do ofício e automóveis estacionados meses a fio nas ruas e nas calçadas, e que não espera a prefeitura limpar a sua sujeira.

Ter uma cidade limpa é não jogar o lixo no terreno desocupado. É não descartar animais de estimação depois que eles perdem a jovialidade. Uma cidade bem cuidada depende de investidores que limpam a sujeira de suas empresas: minério, areia, cascalho, terra, carvão e materiais de construção que vão deixando rastros pelas ruas e estradas.

Pergunto: você, cidadão de Brumadinho, escolheria a Sede do município para passar as suas férias? Eu sim, mas naquela cidadezinha que alguns membros do ‘Memorial de Brumadinho’ postam com saudade no grupo do ‘facebook’.