É muito comum viajarmos para destinos paradisíacos e encontrarmos em seu entorno pobreza e desestruturação. Foi assim que me senti quando fui conhecer a famosa Maragogi e perceber que no entorno do centrinho estava uma realidade muito distante dos disputados corais e do famoso Caminho de Moisés, com esgotos abertos e muita pobreza contradizendo com o glamour. Uma realidade que foge da percepção dos turistas que só se deslocam dos hotéis em vans fechadas e com ar condicionado.
Acredito que grande parte dos turistas que vêm a Brumadinho para conhecer o Inhotim têm uma percepção semelhante à dos turistas atentos que vão a Maragogi, mas numa outra proporção. Pois logo no início da abertura do Museu, um jornalista escreveu sobre a realidade do entorno do Inhotim, o que não agradou a população. Pergunto: como o maior Museu de Arte Contemporânea a céu aberto do mundo tem ao seu redor sujeira de minério, ruas empoeiradas e imóveis encardidos?
Como pode um famoso museu, referência em paisagismo, não exercer a sua responsabilidade social com os bairros vizinhos, preocupando com as suas aparências, colocando-os em sintonia com o seu próprio objetivo artístico e cultural? Por que não premiar o seu entorno com um projeto paisagístico?
Por que a Prefeitura de Brumadinho ainda não fez uma parceria com o Inhotim, com o objetivo de integrar a cidade à beleza estonteante do maravilhoso museu? A realidade é que desde quando o Inhotim foi inaugurado, em 2006, o que temos visto em termos de vizinhança é a segregação. Antes, a estrada que ligava a sede do município ao Inhotim passava dentro do bairro Cohab, o vizinho mais próximo do museu. Entretanto ela foi isolada quando abriram a atual. E a última novidade que os moradores deste bairro tiveram foi o funcionamento do novo acesso ao Inhotim, que fechou a antiga entrada para o bairro, deixando os moradores mais isolados e com a opção de fazer um retorno mais a frente, para assim chegarem ao bairro. Neste caso, cabe bem o que um internauta disse no ‘facebook’: “só falta colocar um muro e isolar o bairro de vez”.
Na verdade, tudo seria melhor se o caminho até o Inhotim recebesse uma revitalização digna do maior ponto turístico do município. Para quem não sabe, nos bairros Progresso e Cohab existem hostels, pequenas pousadas, casas de aluguéis em aplicativos, que são muito procuradas por turistas que visitam o museu, justamente porque querem se hospedar o mais perto possível do Inhotim. E são estes turistas que nos reportam a discrepância dos visuais, pontuando sobre a falta de sintonia da vizinhança com o Museu.
Conheço uma turista de Brumadinho que foi a Maragogi em viagem solo e não permaneceu no local porque não conseguiu se divertir vendo tanta pobreza ao redor dos roteiros turísticos. Também conheço turistas que vieram ao Inhotim e não quiseram conhecer nossos pontos turísticos porque não acreditaram que uma cidade suja e desorganizada poderia realmente oferecer um turismo digno dos que é apresentado em nossos portais turísticos.
Como fazer um voo livre na Serra da Moeda sabendo que escondido debaixo da natureza maravilhosa existem estradas horríveis, pessoas respirando poeira, e casas, escolas, comércios e ruas encardidas pela maior fonte econômica do município, a mineração?
Carminha