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Menos concreto e mais verde!

Mais de 40 dias após as enchentes de janeiro, em todos os cantos do município, o cenário ainda mostra que os estragos estão longe de se tornarem passado. E, com isso, o turismo segue prejudicado pela destruição, principalmente na Sede, onde os poucos turistas que apeiam, têm um destino garantido, que é o Inhotim, local que contrasta com o cenário degradado da cidade.

Sem medo de errar, as pousadas e os imóveis da Sede estão ocupados, em sua maioria, por empresas que têm a incumbência de realizar as obras para consertar os estragos do crime da Vale. Por isso, falar em turismo por aqui está a cada dia mais difícil.

Ao contrário, na Encosta da Serra, em Casa Branca e arredores, os turistas estão voltando aos poucos. A estrada que liga a BR-040 pela Serra do Rola Moça, não sofreu danos. O mesmo não se pode dizer do acesso via mesma BR 040, pelo Topo do Mundo, onde houve um deslizamento de terra que matou uma família inteira. A notícia correu o mundo e a estrada segue interrompida atrapalhando o turismo na região, visto que existem pousadas, restaurantes, empórios, turismo rural e visitas guiadas naquela região.

Muitos acessos municipais à região turística das encostas das serras do Rola Moça e Moeda permanecem em situação precária, inclusive com povoados ilhados, entre eles, Colégio, Ribeirão, Sapé e Marinhos, que são territórios quilombolas e fazem parte de roteiros turísticos.

Nos 640 km² de extensão, Brumadinho é um município com manancial de água invejável. São muitas nascentes, ribeirões, cachoeira e os rios Águas Claras, Rio Manso e Paraopeba. Podemos dizer que o município tem predisposição para enchentes. E não é de hoje. A história das enchentes no Canto do Rio é crônica, pois foi o primeiro bairro a sofrer com elas, antes dos outros atingidos existirem. Mas o nome diz tudo: Canto do Rio e não Canto de Gente.

Uma solução para as enchentes da Sede seria desassorear o Rio Paraopeba e transformar o local numa área de esponja, ou seja, criar meios naturais para absorção da água da chuva, permitindo o seu ciclo natural. A canalização das águas já provou que não dá certo em Brumadinho. Este sistema não permite que a natureza absorva e purifique as águas da chuva, que de útil, torna-se inimiga, quando na verdade, é uma dádiva. A chuva não é vilã.

Cidades-esponjas já foram implantadas em alguns países como Estados Unidos, Indonésia, Rússia, Alemanha e em dezesseis cidades na China. O objetivo é absorver e armazenar 70% da água pluvial, com menos asfalto, menos concreto, mais lagos e mais parques. E que não sejam parques de concreto, como os que foram e estão sendo construídos na Sede de Brumadinho. Precisamos de paisagismo. Precisamos de parques ecológicos. Precisamos de verde.

Parques ecológicos fornecem mais espaços verdes dentro de áreas urbanas onde os moradores podem usar. Segundo especialistas na área, há indícios de que espaços úmidos podem remover até 60% dos metais na água e reter até 90% de sedimentos de escoamento. Isso seria ideal para Brumadinho neste momento, visto que desta vez o rio trouxe como bagagem extra os rejeitos da Vale.

Não é preciso esperar que o pior aconteça e continuar aplicando o sistema de remediação, que objetiva indenizar as perdas de proprietários de imóveis que já foram prejudicados em enchentes anteriores, criando um círculo vicioso sem fim, ou de presentear voluntários que ajudaram ao próximo durante as enchentes (mesmo porque não sabia que alguns voluntários buscavam uma recompensação para ajudar. Acreditava-se que era um ato espontâneo).

Brumadinho cresceu, sim, em torno de um rio. Enquanto a cidade era pequena, eram menos estragos. Agora a realidade é diferente e está na hora de pensar diferente. De investir no novo. De dar espaço para o ecológico, que uma vocação natural do município. Está na hora de abrir espaço para o turismo, que gera empregos e não destrói e, ao contrário, usa a natureza para atrair seus públicos.

É preciso quebrar o concreto e abrir caminho para a natureza de que tanto precisamos para viver.