/Entrevista com Prefeito Nenem da Asa esclarecendo dúvidas sobre a enchente em Brumadinho

Entrevista com Prefeito Nenem da Asa esclarecendo dúvidas sobre a enchente em Brumadinho

No início do ano de 2022 Brumadinho foi assolada por fortes e constantes chuvas que duraram dias. Em decorrência disso o nível da água do Rio Paraopeba subiu atingindo diversos bairros do Município.

O Jornal Circuito Notícias entrevistou o atual Prefeito de Brumadinho, Nenem da Asa para esclarecer algumas das dúvidas dos moradores atingidos e dos cidadãos em modo geral. Acompanhe na íntegra as respostas do Prefeito sobre as ações que foram tomadas antes, durante e após a enchente em Brumadinho.

 

Perguntas:

1 – A temporada de chuva de 2022 assustou a todos os mineiros. Em Brumadinho, por experiência empírica, as chuvas sempre deixaram os cidadãos em alerta em relação a uma possível enchente. Qual foi o planejamento da Prefeitura para a temporada de chuva deste ano?

Primeiro é importante destacar que uma chuva dessa proporção ninguém esperava e não foi só Brumadinho que sofreu. Nova Lima, Sabará, Barão de Cocais, Mário Campos, Betim e tantas outras cidades sofreram o mesmo tanto que o Brumadinho. Brumadinho só tinha uma chance de escapar dessas chuvas: ter sido formada longe do Rio. Mas infelizmente é da cultura dos homens formar cidades às margens dos rios.

Novembro do ano passado foi um mês de muita chuva por isso, ainda em dezembro, pedi à Defesa Civil de Brumadinho e às minhas secretarias de Governo e de Desenvolvimento Social que traçassem um plano caso houvesse alguma emergência. Assim que as chuvas aumentaram a Defesa Civil passou a monitorar o rio durante 24h por dia e o volume de chuvas na cabeceira. Quando entramos em alerta 3 fomos obrigados a retirar as pessoas e encaminhar a quem não tinha pra onde ir, para os abrigos, que foram as escolas do município. As famílias encaminhadas pela Defesa Civil foram acolhidas pelo Desenvolvimento Social que passou a distribuir todo o tipo de doação que recebemos. Assim que as chuvas pararam esse trabalho de assistência e cuidado com as pessoas, continuaram. Graças a Deus e a esse plano de retirada e acolhimento, mão tivemos nenhum registro de morte.

 

2 – Mas a prefeitura não agiu sozinha, certo?

E nem conseguiria dar conta de tudo. Foi muita chuva e os estragos foram grandes. Mas nós contamos com a ajuda de muitos voluntários em especial dos jipeiros, que conseguiram ainda no sábado, dia 08, levar água para as famílias que estavam isoladas no interior, principalmente em Piedade do Paraopeba, Casinhas e Massangano. Também tivemos dos motociclistas e de uma equipe de Bauru, cidade do interior de São Paulo, que chegou aqui com donativos e com caminhões apropriados para andar pelas estradas destruídas pelas chuvas.

 

3 – Qual foi o momento de maior tensão?

Foi quando a cidade ficou isolada, sem acessos e com pacientes precisando sair para fazer hemodiálise em Betim. Entrei em contato com o pessoal da MRS, conseguimos transportar os pacientes sobre a linha férrea e contamos com a ajuda dos jipeiros que encararam a Serra da Conquistinha, passando por dentro da mineração para levar os pacientes até Betim. Determinei ao secretário de Saúde que os mantivessem em um hotel lá em Betim, com acompanhante, até que pudessem regressar. Nessa hora Brumadinho deu o maior exemplo de que a união fez a diferença.

4 – Após alguns dias de muito medo o volume das águas do rio Paraopeba retornou para seu leito normal, mas a nova preocupação dos cidadãos é em relação a lama deixada para trás nas casas, ruas e estabelecimentos. Foi informado ao cidadão que existem chances de novas doenças e problemas surgirem após o contato do cidadão com a lama, mas infelizmente as pessoas precisam lavar e desobstruir suas residências, tendo contato com o rejeito que ainda se acumula no rio. O que está sendo realizado para evitar que esses problemas do futuro se tornem realidade?

Assim que as chuvas pararam o primeiro passo foi entrar com várias frentes de trabalho limpando a cidade principalmente os bairros mais afetados que foram o Progresso, Canto do Rio, São Conrado e Cohab. O Brumado também foi muito atingido pelas cheias e no interior temos registros de pontes quebradas e estradas destruídas. Estamos fazendo o levantamento de tudo o que as águas levaram e vamos reconstruir Brumadinho. Ainda não conseguimos mensurar a quantidade de barro e entulho que levamos para o aterro, mas já adianto que foi algo fora no normal.

Quanto à lama, eu pedi à nossa equipe de Avaliações e Perícias que fizesse a coleta de água e de sedimentos trazidos pelas enchentes em diferentes pontos da cidade. Esse trabalho, que está sendo feito em parceria com as prefeituras de Mário Campos e São Joaquim de Bicas foi realizado no último dia 17 e o material coletado foi para análise em Belo Horizonte. Vamos aguardar os resultados para depois estudarmos as medidas que poderão ser tomadas.

5 – A água possui uma força que assusta a todos e, por isso, causou muitos estragos no Município. Inúmeras famílias foram pegas de surpresa e tiveram suas residências inundadas pelos alagamentos, perdendo absolutamente tudo. São muitos cidadãos que necessitam de ajuda no pós enchente, depois que a água desceu e as ruas foram liberadas. Qual é o planejamento da Prefeitura para ajudar esses cidadãos atingidos daqui para frente?

Primeiro passo: vamos encaminhar um projeto de lei para Câmara para pedir a isenção de IPTU para todos que tiveram suas casas inundadas. Segundo passo é viabilizar um Auxílio Emergencial Municipal que possa ajudar as famílias a se recuperarem. E terceiro é buscar ajuda do Governo Federal para a construção de unidades habitacionais do programa Casa Verde Amarela, antigo Minha Casa, Minha Vida. O próprio Governo Federal já havia nos prometido há dois anos, mas nunca saiu do papel. Vamos agora pressionar e se Brasília não fizer, Brumadinho vai dar um jeito de criar seu próprio programa habitacional.

 

6 – Sozinho ninguém consegue resolver os sérios problemas que Brumadinho enfrenta no pós enchente, por isso todo apoio é necessário. Nesse sentido qual foi a ajuda do Governo do Estado de Minas Gerais e do Governo Federal a Brumadinho durante a enchente?

Toda ajuda é bem vinda, mas do Governo Federal esperamos conseguir um projeto habitacional. Já ao Governo de Minas espero que atenda às nossas demandas que apresentei por meio de um ofício que encaminhamos no dia 13 de janeiro. Pedimos a ele máquinas e caminhões para nos ajudar na limpeza da cidade, mas não fomos atendidos até agora. Pedi a ele a reparação e recapeamento da MG-040 e sugeria a ele que utilizasse os R$ 288 milhões da multa que aplicaram na vallourec, para ajudar Brumadinho e os outros municípios atingidos. Infelizmente ainda não tivemos retorno, mas vamos continuar cobrando, pois o Governo de Minas, no meu entendimento, virou às costas pra Brumadinho.