/Pianista Antonio Adolfo grava Milton Nascimento no CD BruMa, uma respeitosa homenagem às cidades mineiras de Brumadinho e Mariana, atingidas recentemente por tragédias ambientais

Pianista Antonio Adolfo grava Milton Nascimento no CD BruMa, uma respeitosa homenagem às cidades mineiras de Brumadinho e Mariana, atingidas recentemente por tragédias ambientais

O pianista, compositor e arranjador carioca Antonio Adolfo, com mais de cinco décadas de carreira, que reside entre Brasil e Estados Unidos, é reconhecido, internacionalmente, como uma estrela do jazz latino. Conheceu o cantor e compositor Milton Nascimento em 1967, durante o 2º Festival Internacional da Canção (FIC). A mútua admiração musical consolidou uma amizade. O CD BruMa: Celebrating Milton Nascimento (AAM Music/Rob Digital), que chega ao mercado mundial, é um projeto antigo de Adolfo, que sempre sentiu nas músicas de Milton, múltiplas possibilidades instrumentais. ‘Clássicos’ como Cais e Encontros e Despedidas, são apresentados em novos e inspirados arranjos.

“As composições de Milton quebraram padrões harmônicos e rítmicos, com seu modalismo, de maneira espontânea e intuitiva. O que fiz foi adicionar a esse repertório, meu vocabulário de jazz brasileiro. Após trabalhar em 30 músicas, para escolher nove, concluí que Milton é o compositor mais moderno e profundo do Brasil. Não, por acaso, tantos grandes músicos se apaixonam por sua música”, conta Adolfo.

Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro, mas tem seu nome associado a Minas Gerais, onde cresceu. É um dos nomes de maior destaque da música brasileira de todos os tempos. Tem reputação internacional que começou a ganhar força ao gravar músicas próprias no álbum Native Dancer (1974), do saxofonista norte-americano Wayne Shorter. No Brasil era já aclamado por importantes nomes do meio musical, como Elis Regina e Gal Costa, e ampliou sua fama quando estrelas internacionais gravaram suas canções, entre elas Sarah Vaughan, Tony Bennett, Björk, Esperanza Spalding, Paul Simon, James Taylor.

Adolfo e Milton se apresentaram juntos, em 1968, numa temporada de dois meses, no Teatro Santa Rosa (Rio de Janeiro) quando Antonio, ao lado do seu Trio 3-D, participou do show que Milton dividia com o cantor e compositor carioca Marcos Valle. Na época Valle e Milton tinham gravado a música Viola Enluarada (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle) que se tornou um grande sucesso no Brasil.

O título BruMa nos lembra os desastres ambientais que atingiram as cidades mineiras de Brumadinho (2019) e Mariana (2015). Adolfo comenta: “Milton e muitos brasileiros fazem parte de um esforço de grupo para garantir que os danos ao território de Minas não sejam esquecidos e não voltem a acontecer.”

O CD, gravado no Brasil, em cinco dias, tem os músicos Cláudio Spiewak, Lula Galvão e Léo Amuedo (guitarras), Jorge Helder e André Vasconcellos (contrabaixo), Rafael Barata (bateria/percussão), Dadá Costa (percussão), Jessé Sadoc (trompete/flugelhorn), Marcelo Martins (flauta contralto/sax tenor), Danilo Sinna (sax alto) e Rafael Rocha (trombone).

Os arranjos, todos de Adolfo, abrem possibilidades para a arte de Milton. Assim, Fé Cega Faca Amolada, tem harmonia modificada, usando o estilo quadrilha do Nordeste brasileiro e Nada será como antes vira um ‘shuffle jazzístico’, Cais, uma bossa e Caxangá, um ijexá (Bahia). Encontros e Despedidas é apresentada com um toque de guarânia do Centro-oeste.

Antonio Adolfo começou a estudar música na infância. Em 1963 montou o Trio 3-D, que acompanhou diversos artistas. Atuou como compositor em importantes festivais e trilhas sonoras de novelas, obtendo sucesso com Sá Marina Teletema, entre outras. Vive entre Brasil e Exterior desde os anos 1970, e estudou música também nos Estados Unidos e Europa.

Tem atitude pioneira que hoje é padrão na música brasileira: a gravação e distribuição independente de discos. Seu LP Feito em Casa (1977) teve todas as etapas assumidas por ele, desde a gravação até a venda em lojas. Em 1985 cria, no Rio de Janeiro, o Centro Musical Antonio Adolfo, onde desenvolve atividade pedagógica.

Adolfo tem gravado com frequência a partir de 2007. Alguns de seus discos, como Rio Choro Jazz… (2014) e Tema (2015), Tropical Infinito (2016), foram indicados ao Grammy Latino. O CD Hybrido – from Rio to Wayne Shorter, foi indicado também ao Grammy (2018) como Melhor Álbum de Latin Jazz.