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Ateliês de portas abertas: ceramistas de Brumadinho recebem o público no próximo fim de semana

No próximo fim de semana, dias 22 e 23 de abril, dez ceramistas de Brumadinho abrirão as portas de seus ateliês para receber turistas e moradores interessados no universo da cerâmica. Com entrada gratuita e programação livre, o 1º Circuito de Cerâmica do município convida o visitante a fazer seu próprio roteiro e transitar entre os espaços situados na Encosta da Serra da Moeda.  O evento é uma iniciativa dos artistas da região e conta com o apoio do Programa de Fomento do Turismo Sustentável – ação da Vale em parceria com o Instituto Rede Terra.

“Os ateliês estão a, no máximo, 20 minutos um do outro. A ideia é que o público passeie entre eles e visite quantos quiser. Os artistas vão compartilhar um pouco de seus métodos de produção, materiais envolvidos e inspirações”, explica Gustavo Pinto, do Instituto Rede Terra.

 

A cerâmica de Brumadinho

 

Em meio a montanhas e belas paisagens rurais, Brumadinho (MG) guarda uma das mais representativas produções ceramistas do Brasil. Espalhados por dezenas de ateliês, artistas de diversas partes se inspiram na natureza para produzir peças utilitárias e de arte que se destacam pela beleza, originalidade e técnicas empregadas.

Cacos de cerâmica indígena encontrados na região indicam que a tradição ceramista de Brumadinho teve início com os povos originários. Na década de 1970, esse fazer artístico foi retomado com a chegada da artista japonesa Toshiko Ishii ao município, mais especificamente à Encosta da Serra da Moeda. Ao longo de 30 anos, Toshiko mudou o cenário e refez o mapa da cerâmica em Minas Gerais. Seu trabalho, marcado pela pesquisa e pela intensa relação com o território, a natureza, a poesia e o tempo, atraiu jovens artistas que, aos poucos, foram se estabelecendo em Brumadinho, onde permanecem até hoje.

Passados 15 anos desde a morte da artista, seu legado continua inspirando o extenso grupo de ceramistas que ainda atua no município. “A filosofia da Toshiko influencia nossa forma de pensar a cerâmica. Ela via beleza na simplicidade e arte no utilitário. Assim como ela, nós acreditamos que é o uso que dá dignidade para a cerâmica”, conta José Alberto Bahia.

Bahia e a companheira Jéssica Martins são responsáveis pelo ateliê Saracura 3 Potes, conhecido pelas peças feitas a partir de cascas e sementes brasileiras. O casal de artistas explica que seu trabalho dialoga fortemente com a memória nacional. “Escolhemos sempre elementos que estão associados a alguma memória. As cascas brasileiras que são objetos utilitários nas casas dos sertanejos e na vida indígena; as latas de sardinha que já foram fôrmas de bolos na infância, os copos lagoinha tão cheios de vida boêmia e tantos outros objetos da conformação da nossa identidade”, revela Bahia.

A natureza que encantou Toshiko há mais de 50 anos e que influencia o trabalho de Bahia e Jéssica, é a mesma que inspira Cecília Gobbo e Lenine Lucas, do Cerâmica Raiz. “A natureza de Brumadinho é maravilhosa e única, me encanta todos os dias. A paisagem, o vento, a fauna, tudo traz inspiração. Em cada época do ano, o contato da natureza desperta algo novo. Diferente da cidade, aqui percebemos os ciclos da natureza”, diz Cecília.

Tudo o que é produzido ali sai do entorno. A argila extraída do riacho vizinho recebe pigmentos naturais das pedras do quintal. As peças são moldadas pelas curvas das cabaças ou texturizadas pelos veios das folhas colhidas na horta. “Buscar a matéria-prima na natureza traz muito aprendizado”, afirma.

Para a queima, Cecília e Lenine utilizam um forno catenario construído por eles mesmos. “Ficamos até 20 horas alimentando o forno com lenha. A cinza produzida é usada para fazer o esmalte que dá acabamento à cerâmica. O resultado é único, nunca haverá duas peças iguais”.

O artista alemão Benedikt Wiertz, vive no Brasil há 27 anos. Foi professor e diretor da Escola Guinard até 2015, quando se mudou para a Encosta da Serra da Moeda e criou, ao lado da arquiteta e culinarista Joseane Jorge, o ateliê Xakra 88. Wiertz conta que a escolha do lugar foi estimulada pela presença de outros artistas na região, que se deslocaram para lá atraídos pela cerâmica de Toshiko Ishii.

Reconhecido internacionalmente por seu trabalho – exposto em galerias e museus de diversos países-, o artista transita hoje entre a cerâmica artística e a utilitária. “Faço as duas coisas no meu ateliê. Tenho o mesmo prazer e empenho na criação das peças independente do enquadramento como artística ou utilitária. Em diversos dos meus trabalhos e projetos, ambas áreas se juntam, sobrepõem e se nutrem uma da outra”, explica.

 

1º Circuito de Cerâmica de Brumadinho

 

Data: 22 e 23 de abril

Horário: 10h a 17h

Localização: Encosta da Serra da Moeda

Ateliês participantes:

Ateliê Xakra

Adel Souki

Erli Fantini

Gêra Queiroga

Luiza Jardim

Inês Antonini

Cerâmica Raiz

Eny Amorim

Saracura Três Potes

Cerâmica do Abrahão

Mais informações: ceramicabrumadinho.com.br