Um novo jeito de pensar, uma nova abordagem para o reflorestamento de áreas degradadas desenvolvida por cientistas do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, está sendo utilizada com sucesso na área impactada pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019. Nomeada de “Resgate de DNA e indução de florescimento precoce em espécies florestais nativas”, a técnica utiliza enxertia e hormônios desenvolvidos no laboratório da universidade com o DNA das árvores o que garante cópias idênticas as arvores que estão no campo e que sofreram algum tipo de dano.
O projeto conta com a coleta de materiais genéticos de cinco espécies pré-selecionadas, incluindo espécies ameaçadas de extinção e protegidas por lei. A segunda etapa do trabalho abrange esse número para mais trinta espécies, considerando a mesma premissa de proteção das espécies de grande interesse, aqui citamos o Faveiro de Wilson (Dimorphandra wilsonii Rizzini), considerado uma espécie criticamente ameaçada de extinção e endêmica do Estado de Minas Gerais. Parte das mudas produzidas a partir do material resgatado já estão sendo reintroduzidos nas áreas de plantio florestal em Brumadinho, desde 2021.
O trabalho se inicia com uma ida ao campo para levantamento das espécies nativas e a identificação de árvores que estejam em boas condições para coleta de galhos. Após a coleta, o material é levado até o laboratório onde são enxertados em parte da raiz ou no caule de outra árvore da mesma espécie ou da mesma família arbórea, produzindo uma cópia idêntica, um clone. Nesta etapa as mudas são submetidas a um conjunto reguladores de crescimento acelerando o processo de maturação. No campo, o florescimento precoce das árvores atrai insetos como abelhas e borboletas e dispersores de sementes como pacas, entre outros.
Ao introduzir uma cópia gerada a partir do material genético resgatado de árvores que habitam a área impactada, a técnica tem o potencial de reduzir o risco de adaptação da nova planta. O clone carrega o genoma da árvore-matriz, que tem um histórico de adaptação àquele ecossistema específico. Está mais apto a se defender de pragas e parasitas da microrregião e está acostumado ao ciclo local de chuvas e secas.
Vale lembrar que para a recuperação ambiental da área impactada pelo rompimento acontecer, o primeiro passo é a remoção dos rejeitos, atividade fundamental para apoiar as buscas realizadas pelo Corpo de Bombeiros. Somente após a liberação das áreas pelo CBMMG o trabalho é iniciado, já que a busca pelas pessoas desaparecidas é prioridade máxima desde o rompimento.
Até o momento, estão em processo de recuperação ambiental 42 hectares, incluindo parte da área diretamente impactada e áreas protegidas do entorno, com o plantio de aproximadamente 55 mil mudas de espécies nativas da região. Essa área equivale a 42 campos de futebol. Nesse processo de recuperação também está sendo feita a renaturalização de ambientes, incluindo a recuperação dos cursos d’água (ribeirão e córregos) e áreas úmidas impactadas.
Matéria por: Gleison Santos, professor Universidade Federal de Viçosa
Raul Firmino, Analista Ambiental Vale