Ribeirão, Rodrigues, Marinhos e Sapé, são comunidades remanescentes quilombolas de Brumadinho, ricas em cultura e história, com bagagem importante para somar no roteiro turístico municipal. Cultura, história, gastronomia e artesanato: produtos que podem gerar renda para estas localidades por meio do turismo comunitário. Segmento que já é explorado por tantas comunidades no Brasil e no mundo afora. Por que não efetivar esta ideia nas comunidades quilombolas de Brumadinho?
As comunidades quilombolas brumadinhenses se encaixam no ‘etnoturismo’ de base comunitária. Um dos objetivos desta prática é respeitar a tradição local. E, nesta ideia, os turistas interagem com o cenário, cotidiano, arte, cultura e moradores. As comunidades, por sua vez, podem apresentar suas tradições em um centro cultural simples e típico, onde os turistas poderão provar a culinária tradicional, comprar artesanatos e assistir as apresentações culturais e religiosas, como a Missa Conga, as danças africanas, os Congados, Folia de Reis e a boa música dos artistas locais.
Um roteiro turístico organizado interagindo as quatro comunidades quilombolas de Brumadinho pode se transformar num grande atrativo para o turista. As atividades a serem apresentadas podem ser divididas entre as quatro comunidades. Por exemplo, um café da manhã quilombola em Sapé, seguido da apresentação da quadrilha Buscapé para animar o dia, e uma caminhada pela comunidade para vivenciar o local, em seguida os visitantes podem ir à Marinhos e participar da Missa Conga, conhecer uma horta comunitária e vivenciar a comunidade antes de seguir para o almoço em Rodrigues, onde poderão comprar os artesanatos produzidos pelos quilombolas. O café da tarde pode ser em Ribeirão, onde os turistas poderão assistir apresentações de danças típicas e shows musicais. Com certeza, o dia será muito produtivo e inesquecível.
O turismo desenvolvido nas comunidades quilombolas de Brumadinho tem objetivo de fortalecer os grupos quilombolas, podendo contribuir com o fortalecimento do capital social, demandando autogestão, pois além das apresentações, artesanatos e gastronomia, os moradores podem investir em receptivos familiares e hospedagens em pousadas coletivas, além de bares e restaurantes típicos.
20 de novembro – Dia da Consciência Negra
O título de Comunidades Remanescentes Quilombolas é uma conquista recente, e a luta para manter os próprios territórios, com suas culturas e tradições, ainda segue em andamento. São mais de três mil comunidades reconhecidas no Brasil. Para preservar estas localidades é preciso de uma gestão sustentável, e o turismo é uma boa ideia para gerar economia e evitar o êxodo de seus moradores para os grandes centros comerciais, em busca de trabalho.
Falamos em êxodo porque conhecemos a história destas comunidades e sabemos que muitos de seus integrantes migraram para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outras cidades e capitais, em busca de empregos, muito antes da Lei dos Remanescentes Quilombolas. Até cerca de 30 anos atrás estas comunidades eram praticamente desconhecidas pelos próprios moradores de Brumadinho, e viviam isoladas do restante do território municipal, refletindo as sequelas da escravidão que, infelizmente, ainda permanecem vivas no Brasil.
Na verdade, há resquícios do sistema escravagista no mundo inteiro. No Brasil ele vigorou até 1888. São apenas 132 anos de “liberdade” dos descendentes dos cerca de 3,5 milhões de mulheres, homens e crianças que foram trazidos do continente africano para a Colônia Portuguesa, como prisioneiros, e que permaneceram sem liberdade por mais de três séculos, numa triste e vergonhosa realidade da nossa história. Sendo assim, tudo que o país fizer para se desculpar, será pouco em vista do tanto que estas pessoas fizeram para o Brasil. Afinal, elas foram desumanamente anuladas e privadas das suas próprias vidas, vivendo em função de seus ‘senhores’.
Enfim, o investimento no ‘etnoturismo’ nas comunidades quilombolas de Brumadinho é mais uma ideia que sugerimos à Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, pois é um segmento promissor e que se adequa muito bem ao roteiro turístico municipal. Outra sugestão é a realização de um grande evento cultural para festejar o Dia da Consciência Negra na Sede do município, onde as tradições e cultura dos moradores quilombolas possam ser apresentadas aos próprios moradores de Brumadinho, além dos turistas.
Neste evento sugerido podem andar juntos a gastronomia e apresentações culturais e artísticas das comunidades de Marinhos, Sapé, Ribeirão e Rodrigues. E, por que não um carnaval temporão? Pois em Marinhos esta era uma tradição antiga onde, tempos atrás, os moradores produziam bonecos gigantes, que lembram os de Olinda. Sem falar, é claro, que foi um remanescente quilombola, José Maria Bibiano, que fundou a antiga Escola de Samba Cai Cai do Morro. Histórias que poderemos abordar em uma próxima edição.
Texto por: Carminha